A transformação do ESG: Uma Nova Era para a Sustentabilidade Corporativa

September 23, 2025

O conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) passou por uma revolução silenciosa nos últimos anos. O que antes era tratado como uma prática voluntária, muitas vezes impulsionada por questões de reputação ou marketing, agora está no centro de uma mudança profunda nas operações e estratégias corporativas. 

As empresas estão deixando para trás a terminologia ESG e adotando uma linguagem mais centrada nos negócios, como "gestão de riscos", "resiliência operacional" e "criação de valor a longo prazo". Essa mudança reflete uma transformação mais ampla no cenário de negócios, onde as questões de sustentabilidade não são mais vistas como algo opcional ou secundário, mas sim como um imperativo estratégico, essencial para a sobrevivência no mercado atual.

Da ambição à regulação

Esse movimento pode estar relacionado nas diversas regulamentações globais que impõem um rigor crescente sobre como as empresas reportam e gerenciam suas práticas de sustentabilidade. A União Europeia, por exemplo, tem liderado essa transformação com legislações como a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD) e a Diretiva de Due Diligence de Sustentabilidade Corporativa (CSDDD), que exigem maior transparência e responsabilidade das empresas em relação aos seus impactos ambientais e sociais. Essa pressão regulatória se estende além da Europa, com esforços em diversas partes do mundo para criar uma base comum de relatórios e governança, como o trabalho do International Sustainability Standards Board (ISSB), que lançou novas normas internacionais de sustentabilidade, IFRS S1 (requisitos gerais) e IFRS S2 (riscos e oportunidades relacionados ao clima). 

Ao mesmo tempo, as empresas estão cada vez mais reconhecendo a sustentabilidade como uma fonte de valor a ser explorada. Um relatório da PwC de 2025 ressalta que o compromisso com a sustentabilidade continua a ser um motor de crescimento. Muitas empresas estão transformando seus compromissos climáticos em ações concretas, não apenas para atender à demanda por produtos mais sustentáveis, mas também para proteger o valor em risco e garantir o crescimento a longo prazo. A PwC observa que as empresas que investem em inovação sustentável têm um retorno de receita significativamente maior, com produtos sustentáveis gerando de 6% a 25% a mais em comparação com produtos convencionais.

A Sustentabilidade como Fonte de Criação de Valor

A sustentabilidade não se resume mais a reduzir emissões ou gerenciar impacto socioambiental; ela se tornou uma estratégia integrada para maximizar a criação de valor -  potencial que fica ainda mais em evidência com as possíveis aplicações da inteligência artificial (IA).  A IA deverá acelerar a transição para práticas mais sustentáveis nos próximos anos, transformando a forma como as empresas gerenciam seus processos, desde a otimização de cadeias de suprimentos até a análise preditiva de riscos ambientais. 

Fica cada vez mais evidente que sustentabilidade é, no fim das contas, praticar uma boa gestão. O Centro para Negócios Sustentáveis da New York University (NYU) apresenta anualmente resultados de seus cases de negócios que comprovam que investimentos em sustentabilidade trazem retornos tais como:

• Gerencia riscos operacionais, de mercado, regulatórios e de reputação;

• Cria oportunidades de inovação e crescimento;

• Identifica ineficiências operacionais;

• Cria benefícios de vendas, marketing e fidelização de clientes;

• Melhora o relacionamento com fornecedores e a resiliência;

• Apoia o relacionamento com as partes interessadas e os benefícios da licença para operar;

• Cria benefícios de produtividade e retenção de funcionários.

Mais alguns dados trazidos pelo Capgemini 2025 Davos Investment Trends Report: a despeito do cenário político desfavorável ao tema, 91% das empresas que estão integrando a sustentabilidade estrategicamente esperam aumento de receita em 2025,  77% das empresas planejam manter ou aumentar seus investimentos em sustentabilidade e  47% dos CFOs acreditam que seu envolvimento na estratégia e execução de ESG aumentará nos próximos 12 meses.

Oportunidade empresariais com a COP30 no Brasil 

Esse cenário ganha uma importância ainda maior quando pensamos na Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro no Brasil. A COP30 será um marco para o setor privado brasileiro, com a crescente exigência de que as empresas contribuam ativamente para as negociações climáticas globais.

Há muita mobilização, mas os resultados das discussões é que deverão indicar os próximos passos. Nesse sentido, a Sustainable Business COP (SBCOP) surge como uma iniciativa global liderada pela  Confederação Nacional da Indústria (CNI) para envolver o setor privado na ação climática e acelerar a mudança para uma economia de baixo carbono.

Segundo a SBCOP, temas como transição energética, economia circular e soluções baseadas na natureza (NbS) serão tratados como prioritários na Conferência. O impacto dessas discussões deverá ser profundo, não apenas por aumentar a pressão sobre as empresas, mas também por criar novas oportunidades de negócios e inovação sustentável.

Para isso, há necessidade de uma estratégia integrada. A sustentabilidade não pode mais ser vista como uma área isolada ou secundária dentro da organização. Ela precisa ser incorporada diretamente à estratégia corporativa, ao planejamento financeiro e à gestão de riscos. Isso envolve uma colaboração constante entre as áreas de sustentabilidade, finanças, governança e operações, criando um sistema interligado que favoreça o alinhamento das metas de longo prazo com as expectativas dos stakeholders.

No fim, o que está em jogo é mais do que o cumprimento de regulamentações ou a redução de impactos negativos. A verdadeira oportunidade está em transformar a sustentabilidade em um motor de inovação e crescimento, criando valor para a empresa, para seus clientes e para a sociedade como um todo. Em um cenário global cada vez mais exigente, as empresas que adotarem essa abordagem integrada estarão não apenas preparadas para atender às demandas do futuro, mas também para liderar a transformação que o mercado está exigindo.

*Tatiana Lemos, Sócia e Líder de Sustentabilidade da Numerik, especialista em ESG e Gestão da Sustentabilidade pela FIA-SP, certificada pelo Sustainability Reporting Process - GRI.


A Numerik é uma consultoria internacional especializada no desenvolvimento de ecossistemas, sustentabilidade e inovação corporativa.

Com a convicção de que a excelência e a proatividade são essenciais para gerar impacto positivo, seu foco é garantir resultados estratégicos e eficazes, alinhados às necessidades de cada cliente.

A empresa conta com uma equipe multidisciplinar, distribuída em escritórios em Lisboa, São Paulo e Porto Alegre, para atender empresas, governos e instituições globalmente.

Atuante no ecossistema de impacto, a Numerik é uma Empresa B Certificada® que opera com elevados padrões de desempenho social e ambiental, tendo alcançado a neutralidade de carbono em 2022, antes da sua meta de 2030.

Fontes:

  1. A Decade of Research: How to Ensure Sustainability Initiatives Drive Enterprise-Wide Value Creation (NYU)
  2. Five Ways that ESG Creates Value (McKinsey)
  3. Navigating uncertainty with confidence: Investment priorities for 2025 (Capgemini)
  4. PwC's Second Annual State of Decarbonization Report 
  5. SB COP Priorities to COP30